Deu no Correio Braziliense
Neste domingo, a apenas uma semana da eleição presidencial, temos uma parte
menor do sistema político, uma parte importante (mas minoritária) da sociedade
e a maioria da “grande imprensa” em torcida animada para que a “última hora”
faça com que os prognósticos a respeito de seu resultado não se confirmem.
É natural que todos os candidatos, salvo Dilma, queiram que alguma reviravolta
aconteça. Os três partidos que dão apoio a Serra, o PV de Marina Silva, os
pequenos partidos de esquerda, todos torcem pelo “fato novo”, a “bala de
prata”, algo que a golpeie. Do outro lado, a ampla coligação que Lula montou
para sustentar sua candidata (e que formará, ao que tudo indica, a maioria do
próximo Congresso) espera que nada altere o quadro.
Hoje, Dilma lidera em todas as regiões do país, jogando por terra as análises
que imaginavam que as eleições consagrariam um fosso entre o Brasil “moderno” e
o “atrasado”. Era o que supunham aqueles que leram, sem maior profundidade, as
pesquisas, e acreditavam que Serra sairia vitorioso no Sul e no Sudeste,
ficando com Dilma o voto do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste. Não é isso
que estamos vendo.
Ela deve vencer em todos os estados, em alguns com três vezes mais votos que a
soma dos adversários. Vence na cidade de São Paulo, na sua região metropolitana
e no interior do estado. Lidera o voto das capitais, das cidades médias e das
pequenas. É a preferida dos eleitores que residem em áreas rurais.
As pesquisas dão a Dilma vantagem em todos os segmentos socioeconômicos
relevantes. É a preferida de mulheres e homens (sepultando bobagens como as que
ouvimos sobre as dificuldades que teria para conquistar o voto feminino), de
jovens e velhos, de negros e brancos. Está na frente entre católicos,
evangélicos, espíritas e praticantes de religiões afro-brasileiras.
Vence entre pobres, na classe média e entre os ricos (embora fique atrás de
Serra entre os muito ricos). Lidera entre beneficiários do Bolsa Família e
entre quem não recebe qualquer benefício do governo. Analfabetos e pessoas que
estudaram, do primário à universidade, votam majoritariamente nela.
É claro que sua candidatura não é uma unanimidade. Existe uma parcela da
sociedade que não gosta dela e de Lula, que nunca votou e que nunca votará em
alguém do PT. São pessoas que até toleram o presidente, que podem achar que é
esperto e espirituoso, que conseguem admirar aspectos de seu governo. Mas que
querem que Dilma perca.
Se, então, Dilma reúne ampla maioria no eleitorado e apoios majoritários no
sistema político, o que seria a “última hora”? O que falta acontecer, de hoje a
domingo?
Formular a pergunta equivale a considerar que o eleitorado ainda não sabe o que
vai fazer, que aguarda a véspera para se decidir. Que “tudo pode mudar”.
É curioso, mas quem mais acredita que os outros são volúveis são os mais cheios
de certezas, os mais orgulhosos de suas convicções. Mas acham que o cidadão
comum (o “povão”) é diferente, que é incapaz de chegar com calma a uma decisão
pensada e madura.
É fato que sempre existe uma parcela do eleitorado que permanece indecisa até o
final. Já vimos, em eleições anteriores, que ela pode oscilar, saindo de uma
candidatura e indo para outras. Conforme o caso, sua movimentação pode provocar
resultados inesperados, como ocorreu com o segundo turno em 2006.
Mas aquelas eleições também mostram como acontecem esses fenômenos de “última
hora”. Nelas, a única coisa que um quase uníssono da “grande imprensa” contra a
candidatura Lula conseguiu fazer foi assustar os eleitores mais frágeis, com
baixa informação e baixo interesse por política. Os dados indicam que os
eleitores mais informados e com alto e médio interesse em nada foram afetados
pela artilharia da mídia (assim como os sem nenhum, que nem ficaram sabendo que
havia “aloprados”).
Ou seja: aquela gritaria só fez com que as pessoas mais inseguras a respeito de
suas escolhas ficassem confusas, ainda que apenas por alguns dias. Mal começou
a campanha do segundo turno, Lula reassumiu as rédeas da eleição e avançou sem
problemas até a consagração no final de outubro. É como o título daquela
comédia: “Muito barulho por nada”
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Há 5 anos
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